Embora adorno seja um exímio escritor de aforismos e produza trechos curtos de grande impacto, o caráter fragmentário e muitas vezes de anotação desse compilado de parágrafos, organizado tematicamente e com textos de apoio, dificulta o entendimento e restringe o interesse. Fãs de Adorno e Beethoven não deixarão de ler, é claro, mas o percurso é irregular: é preciso saber colher as elaborações interessantes, e o fato de que Adorno pressuponha o leitor ser profundamente familiarizado com Beethoven deve nos convidar a (re)ouvir a obra enquanto lemos. A comparação com Hegel, também se exime de explicar Hegel, embora a ideia principal seja: Beethoven é o auge na música de uma certa forma em que o subjetivo e o objetivo estavam integrados em sua maior potência; depois disso, haverá sempre uma tensão entre os pólos e a música se verá sempre após esse momento mágico, do Beethoven heróico. Ali, a relação entre partes e o todo de cada obra é tal que os elementos são elaborados para contribuir com o todo, e mesmo as melodias são propositadamente menos significativas, para, na relação com o todo, se tornarem mais significativas (a coesão adquirida acaba sendo mais expressiva que aquela que seria obtida individualmente). Mas Beethoven supera Hegel, afinal, porque em sua fase tardia reflete sobre o caráter de segunda natureza da tonalidade, e expõe as estruturas, esquemas e conteúdos típicos como tais, quebrando o encanto e produzindo algo profundamente crítico. ( )