R. Murray Schafer (1933–2021)
Auteur van The Soundscape
Over de Auteur
Werken van R. Murray Schafer
British Composers in Interview. [With portraits.] 2 exemplaren
Educação Sonora 1 exemplaar
Polytonality for piano solo / R. Murray Schafer 1 exemplaar
Smoke : A Novel 1 exemplaar
Epitaph for Moonlight (Graphic Score) 1 exemplaar
Quartets, violins (2), viola, cello, no. 3 1 exemplaar
Magic songs 1 exemplaar
The garden of the heart 1 exemplaar
The Sixteen Scribes 1 exemplaar
The public of the music theatre (UE Report) 1 exemplaar
Tagged
Algemene kennis
- Gangbare naam
- Schafer, R. Murray
- Officiële naam
- Schafer, Raymond Murray
- Geboortedatum
- 1933-07-18
- Overlijdensdatum
- 2021-08-14
- Geslacht
- male
- Nationaliteit
- Canada
- Beroepen
- Composer
- Organisaties
- American Academy of Arts and Letters (Honorary member, 2015)
- Prijzen en onderscheidingen
- Molson Prize (1993)
Leden
Besprekingen
Lijsten
culture (1)
Misschien vindt je deze ook leuk
Gerelateerde auteurs
Statistieken
- Werken
- 36
- Leden
- 434
- Populariteit
- #56,344
- Waardering
- 4.1
- Besprekingen
- 3
- ISBNs
- 46
- Talen
- 7
A Paisagem Sonora (na Literatura) / The Soundscape in Fiction.
Se não fosse por uma descompromissada leitura inspecional, não teria concluído este livro. Não sou músico, captador sonoro, nem nada parecido, e meus gêneros musicais prediletos são ou barulhentos e ruidosos, ou distrativos, ambos problematizados (de maneira muito inteligente) pelo Schafer. O que eu gosto, no entanto, é de literatura — e de literatura e erudição, surpreendentemente, este livro é abundante; Schafer passa pelos primeiros registros literários sumérios, pelos chineses, pelos gregos e romanos, pela idade média, chegando até aos clássicos modernos, observando como diversos autores de diferentes tempos se relacionavam com o som ambiente e com a paisagem sonora circundante.
Observamos testemunhos auditivos feitos por grandes escritores ao longo de gerações, sempre se apoiando nos trechos dos próprios e auxiliados por toda bagagem e conhecimento do Schafer acerca da paisagem sonora, termo cunhado por esse canadense; ele lê conosco “as elaboradas descrições auditivas” da Bíblia e das Mil e uma Noites, e nos mostra como são perceptíveis e indicativos, nesses relatos, o fato desses antigos povos possuírem uma competência ''sonológica'' melhor desenvolvidas que a nossa. E de que maneira (e por quais fatores) a nossa percepção sonora se dteriorou e está se deteriorando.
É sabido que na ficção não precisamos imitar a realidade, mas a questão da paisagem sonora quando se quer ficcionalizar outros tempos, me parece muitíssimo interessante, e aqui não faltam exemplos: temos trechos "narrativos" dos mais diversos ambientes, desde as praias das Eclógas de Virgilio até a era moderna das máquinas.
interiorizar um som e depois exteriorizá-lo, da maneira que soe mais representativa, me parece bonito, de certa forma; principalmente quando se trata de sons da infância, talvez até extintos, que só na ponta do lápis perdurarão. Ou mesmo som imaginativos, afinal, até para eles, é preciso ter um referencial. Há um trecho muito bom, mas muito longo para colocar aqui, da descrição minuciosa do som de um terremoto; é preciso saber ouvir, e também, saber expressar.
Ele (o Schafer) apresenta algumas formas e até exercícios — voltados para os músicos, mas… — que também podem ser uteis à todas as pessoas. E, até, foca-se mais atentamente nos escritores numa breve seção de um dos capítulos finais, sobre alguns sons que acompanham o corpo: muitos instrumentos musicais ou mesmo ferramentas de trabalho se adéquam a respiração e aos batimentos, e através da sua leitura de Proust e Virgilio, diz: “Surpreendo-me com o fato de os críticos literários não terem desenvolvido (ainda) a relação entre respiração e escrita.”
O escopo do livro é grande, e o desbravar do Schafer contra o ruído, que mostra ser um problema sério e, quase paradoxalmente, ‘silencioso’, no sentido de desapercebermo-lo, é louvável. Você pode ler esse livro para diversos fins, e se ater aos capítulos que mais lhe interessarem; vou passar por alto em apenas alguns desses pontos, que ficaram na minha memória:
— Há a questão do silêncio ao longo do tempo; em outros tempos e culturas, era buscado, hoje, no homem moderno, é temido:
Temendo a morte como ninguém antes dele a temera, o homem moderno evita o silêncio para nutrir sua fantasia de vida eterna, Na sociedade ocidental, o silêncio é uma coisa negativa, um vácuo. O silêncio, para o homem ocidental, equivale à interrupção da comunicação. Se alguém não vem nada para dizer, o outro falará, Daí a garrulice da vida moderna, que se estende à toda sorte de algaravia.
— O arquiteto moderno está fazendo projetos para os surdos. (esquecem do ruído; esquecem do ambiente sonoro; esquecem da paisagem sonora; que nos tempos antigos, era levado em conta)
— A única lei anti-ruído que funcionou até hoje foi a posta em voga pelos deuses sumérios: “apresentava-se na forma de punição divina, Na Epopéia de Gilgamesh lemos: ‘‘Naqueles dias o mundo proliferou, as pessoas se multiplicaram (...) e o grande deus se ergueu com o clamor. Enlil ouviu o clamor e disse aos deuses no Conselho: “O ruído da espécie humana é intolerável e é impossivel dormir por causa da babel”, Então, os deuses soltaram o dilúvio.
— Os sons ameaçados de extinção deveriam ser registrados de modo especial e gravados antes de seu desaparecimento: “Todos temos uma lista semelhante à essa. Ouvimos retroativamente, à la recherche du temps perdu [em busca do tempo perdido], e notamos quantos desapareceram sem que percebesse-mos. Onde? Onde estão os museus de sons desaparecidos? Mesmo os sons mais comuns serão lembrados com afeto depois de desaparecerem. ”
— Na atual paisagem lo-fi a razão de sinal/ruído um por um, onde sons não mais se propagam e tornam-se indistinguivéis; diferente dos antigos ambientes hi-fi, como a pequena cidade de Goethe, onde um único guarda se fazia ouvir por toda população, bastando erguer a voz.
— Símbolos e marcos sonoros; os sons da vida; a floresta e a voz das árvores; o vento e o mar como evocativos de ilusões auditivas; as transformações da água e as vozes do mar; passando sempre por: Homero e Hesiodo, até os Edas Escandinavos e escritores modernos canonizados, como Ezra Pound, Mann, Herman Hesse, e muitos outros…… (meer)