Que a existência seja inútil não é simples banalidade. É o que estimula esse livro complexo. Ele defende duas contenções (posições controversas): (1) o desencantamento do mundo, promovido pelo iluminismo, é uma consequência necessária e revigorante, isto é, positiva, dos poderes da razão. (2) Existe uma realidade independente de nós, indiferente à nossa existência, nossos valores e significados. Assim, o niilismo é uma oportunidade especulativa de acessar um pensamento cujos interesses não coincidam com os dos vivos.

Cada capítulo esmiuça um autor ou grupos de autores-obras segundo uma problemática relacionada ao tema. O que torna a leitura bastante difícil no caso daquelas obras as quais não se conhece. Brassier procede por tentar valorizar ao máximo cada opositor e aliado, detalhando méritos naqueles que irá descartar, e apontando falhas naqueles que irá se apoiar. É um autor de uma generosidade engajada - de esforço analítico radical, e de um vocabulário terrivelmente extenso (preparem seus dicionários). Mesmo que seus argumentos tentem ser claros e contundentes, a complexidade argumentativa pode ser um empecilho. Funciona melhor para os autores que já se conhece, no meu caso: Sellars, Meillassoux, Heidegger, Deleuze, Nietzsche. A leitura dos apoiados sobre a obra de Adorno e Badiou foi conturbada, e existe um problema de inteligibilidade, de complicação, no capítulo sobre o já obscuro e complicado por fama Laruelle.

De toda forma, é bonito chegar na última seção final do livro, em um tópico bastante curto, e ler ali condensado o percurso do livro, que a princípio parece disparatado, embora brilhante. Certamente não é algo para se ler apenas uma vez. ( )