Mariusz Kozak

Kozak quer mostrar como, mesmo no caso de lidarmos com um repertório de música contemporânea clássica (Sariaaho, Birtwistle, Andriessen etc), uma concepção ecológica da escuta, a partir do corpo é mais adequada. Adicionalmente, e amplamente baseando-se em Mearleu Ponty, numa fenomenologia que busca esse estado originário de coconstituição humano-mundo, ele quer argumentar como o tempo vivido, secretado pelo corpo em seu presente extendido, de retenções e protenções, em uma horizontalidade-processo e uma verticalidade da auto-colocação das identidades (se é que entendi direito), enfim, como esse tempo se confunde com a própria música ou, ao menos, é a concepção adequada ao tempo musical. Assim, escutar se realiza nas capacidades e disponibilidades do corpo de ser elicitado e solicitado pelo ambiente/som a se coordenar e sincronizar com ele, motivado pelos afetos do corpo (de philia e phobia) e condicionado por sua cultura, em um nível cognitivo mas não da racionalidade, mobilizando e modificando seu esquema corporal, criando sentido, mesmo que os movimentos sejam mínimos. Porque estes, na diferença interna que vão formando, se confundiriam com o tempo vivido. Depois desse resumo grosseiro, pergunto: ele consegue fazer o que propõe? Não, não existem no livro argumentos que retirem a impressão de que para realizar suas análises interessantes (embora um pouco dramáticas demais pro meu gosto) ele mobiliza a memória e as funções da alta cognição (para não falar do tempo linear não fenomenológico, próprio às partituras que ele insiste em indicar) e que, se vale investir em preocupações quanto ao corpo e a abordagem de uma escuta ecológica, não há motivo para comprar uma ideologia que postula a primazia de um estrato que é UM dos estratos.… (meer)