Eu e Paulo Dantas começamos a ler essa coletânea de artigos no nosso grupo de leitura, mas abandonamos após 5 textos por achar que em geral, embora e talvez justamente porque estes tenham ideias ou um argumento interessante, eles não desenvolvem, ou deixam de lado consequências das mesmas. A introdução é bastante pro-forma. SF as Hamlet do Hiroki Azuma tem uma comparação maluca da ficção científica com Hamlet, com uma analogia do pai fantasma com a ideia de totalidade narrativa, que se perde, mas assombra. O problema é que isso não articula bem com a ideia do "otaku 3" (o otaku ápice do pós-modernismo), e o exemplo das obras da Arai Motoko, e a questão das narrativas é muito melhor exposta no livro famoso do autor (Database Animals). O texto da Susan Napier tampouco se sustenta muito bem, a ideia de "estruturas profundas" fica solta (o meio da animação sendo mais propício a uma relação mais solta da representação com o real que levaria a uma abundância de tratamentos ligados à fantasia e ficção científica). A ideia de que Evangelion e Lain apontam para um tratamento pós-moderno da realidade, onde ela pode se desdobrar como uma criação mental é interessante, mas não é bem suportada pelo texto. O texto dos Chiba (Naoki e Hiroko) também fala de um assunto muito interessante - palavras emprestadas, estrangeirismos, nos animes. Mas remete a outra bibliografia, apenas indicando o "efeito cassete" - o brilho que a falta de referencialidade, palavras magras de associação, e passando pela diferenciação clássica do japonês do wago, kango, garaigo, no entanto trabalhando isso de modo muito de passagem / superficial, nas obras (Maccros Plus, Akira). Por fim, o texto "Sexualidade Otaku", do Tamaki Saitou, é uma espécie de condensado de seu livro, e de fato fiquei com vontade de ler. Não é um texto tão problemático, mas é denso demais, e fortemente apoiado em elementos de psicanálise que não domino.

Enfim: os artigos não são ruins. Mas não recomendo, pelo caráter meio superficial com que ideias são tratadas. ( )